Quanto menos emoção melhor a decisão?

Será que os seres humanos podem viver, pensar e agir sem emoções? Devemos suprimi-las para nos tornarmos melhores líderes? A neurociência responde a todas estas questões com um enfático “Não”!

Por incrível que pareça, a ausência de empatia, remorso e até mesmo bondade são elementos tradicionalmente associados a decisões assertivas. Muitos programas de MBA e empresas valorizam e buscam reforçar um raciocínio frio e calculista em seus profissionais e executivos futuros. No entanto, fica a pergunta: quanto menos emoção melhor a decisão?


Descartes estava errado

A influência e o legado de Descartes na sistematização do processo científico são admiráveis.  No entanto, desde a ascensão da ciência cartesiana, houve um grande erro de interpretação sobre a natureza humana, atribuindo ao processo cognitivo a expressão máxima da experiência humana: “Penso, logo exiso”. 

A ideia central do racionalismo é que eliminar as emoções, relegando-as aos comportamentos animais, garante um pensamento objetivo. Ainda hoje, expressões como “fique tranquilo” ou “não seja emocional”, entre outras, mostram a atitude depreciativa das sociedades modernas em relação às emoções, dominando o discurso tradicional da ciência e do mundo corporativo.

No entanto, a neurociência tem fornecido evidências empíricas de que as emoções são, pelo menos, tão importantes quanto qualquer outra função cerebral na forma como tomamos decisões. Portanto, a divisão estrita entre mente e corpo proposta por Descartes é insuficiente para explicar a complexidade da cognição humana.

 

“Sinto, logo existo”: Antônio Damásio e o erro de Descartes

Damásio, médico e neurocientista português, é um dos principais defensores da natureza inseparável da emoção e do comportamento humano. Em seu livro, “O Erro de Descartes” (1994), ele afirma que a redução da emoção, ao contrário do consenso, pode ser uma fonte igualmente importante de comportamento irracional.

Em outras palavras, quando a emoção está ausente, observamos uma série de comportamentos aberrantes, evidenciando a dependência da cognição e do raciocínio a um sistema emocional saudável. Dados que corroboram essa observação vêm de estudos com pacientes com lesões no córtex orbitofrontal e outras áreas cerebrais associadas ao processamento emocional.

Muitos desses pacientes com danos cerebrais parecem capazes de continuar desempenhando excepcionalmente bem suas tarefas pessoais e profissionais cotidianas. No entanto, seu comportamento revelava-se catastrófico em ambos casos. Isso demonstra que a habilidade de usar emoções na tomada de decisões e no comportamento é tão importante quanto a habilidade de usar a lógica.

 

Quanto menos emoção melhor a decisão. Será?

“Desligar” a parte do cérebro relacionada ao processamento emocional ao se tomar decisões de gestão e de negócios não apenas é neurologicamente impossível, uma vez que nosso cérebro está interconectado e depende disso para funcionar, como também pode ser muito perigoso.

Em termos evolutivos, as emoções se desenvolveram muito antes da própria espécie humana e desempenharam um papel crucial na tomada de decisões. As partes cerebrais envolvidas nas tarefas executivas, pelas quais nos orgulhamos hoje, foram adicionadas mais recentemente ao nosso sistema nervoso e dependem muito das emoções para conduzir e direcionar as decisões. 

Assim, as decisões desprovidas de emoção não apenas são equivocadas, mas também podem ser perigosas, pois deixam de levar em consideração um número significativo de informações – a capacidade de ponderar as escolhas diante dos possíveis impactos sobre nós mesmos e os outros.


Emoções são veículo para transformação

Além de melhorar nossa tomada de decisões, as emoções são importantes na liderança porque são a base da motivação. Raramente pensamos nisso, mas a própria palavra “emoção” implica que as emoções são a base de todos os nossos movimentos (do latim “movere”). Sem as emoções, ficaríamos inativos, sem vontade de fazer qualquer coisa.

Tanto as emoções positivas quanto as negativas nos impulsionam a agir, seja para enfrentar uma situação ou para nos afastarmos dela. Os líderes e gestores precisam estar familiarizados com a forma como esses sistemas afetam seu próprio comportamento e o das outras pessoas, se desejam tomar decisões de alto nível.

Em resumo, as emoções desempenham um papel fundamental em nossas decisões e comportamentos. A neurociência refuta a ideia de que suprimir ou eliminar as emoções leva a uma melhor tomada de decisões. Pelo contrário, as emoções são parte integrante do nosso ser e desempenham um papel essencial em nossa cognição e comportamento. Entender e abraçar as emoções pode levar a melhores resultados e um ambiente mais saudável e produtivo tanto no âmbito pessoal quanto profissional.

 

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